domingo, 29 de abril de 2012

Dia Mundial de Oração pelas Vocações - Santuário Nacional

Neste 4o. domingo da Páscoa, no texto do Livro dos Atos dos Apóstolos que acabamos de escutar, Pedro nos apresenta Jesus como o fundamento de toda a nossa vida, porque ele é o único que nos salva.

Ele é a pedra angular da qual depende a estabilidade, a unidade e a coesão da Igreja. Não há salvação em nenhuma outra pessoa a não ser em Jesus Cristo. No trecho do evangelho de hoje, o mais significativo do cap.10 do evangelho de João, Jesus se auto-define como o Bom Pastor. Para as primeiras gerações de cristãos essa imagem do Bom Pastor referia-se ao Cristo ressuscitado, o verdadeiro Pastor.

 Com efeito, Jesus com a sua morte e ressurreição, deu-nos por meio do Espírito Santo, a vida nova no batismo, tornando-nos filhos de Deus e participantes da natureza divina. Jesus é o único e verdadeiro pastor, aquele que se solidariza e ama as suas ovelhas, que somos nós, a ponto de dar sua vida por nós, livremente e por amor. Ele continua a entregar-se por nós em cada Eucaristia, que é a atualização sacramental de sua morte na cruz.

 Dentre os batizados, Deus chama as pessoas para diferentes vocações e, em particular, ele chama alguns homens para o ministério sacerdotal, que a exemplo de Jesus, o Bom Pastor, se dedicam ao anúncio da Palavra, à celebração dos sacramentos e ao ministério pastoral. Chama, igualmente, outras pessoas à vida consagrada, que se entregam total e exclusivamente ao seguimento de Cristo por meio da vivência dos conselhos evangélicos de obediência, castidade e pobreza e desempenham diversos serviços pastorais no campo da educação, da saúde, da formação e promoção humanas. O Papa Bento XVI, na sua mensagem para este Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado neste Domingo do Bom Pastor, convida-nos a refletir sobre o tema: “As vocações dom do amor de Deus.” Cada vocação específica é dom do amor de Deus.

É Deus quem realiza o primeiro passo; é Ele quem nos chama; nos chama não porque viu em nós um merecimento especial, mas em virtude do seu próprio amor derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. A causa da resposta ao chamado de Deus é o amor a Deus e ao próximo, sobretudo, às pessoas mais necessitadas, mais pobres. O Santo Cura D’Ars, São João Maria Vianney, gostava de dizer “o padre não é para si mesmo, mas ele é padre para os outros”. As vocações para o sacerdócio ordenado e para a vida religiosa são despertadas no seio da família, no contato com a palavra de Deus na Sagrada Escritura, na oração pessoal e comunitária e, sobretudo, na Eucaristia, expressão perfeita do amor de Deus para conosco e onde se compreende a beleza de uma vida totalmente doada a serviço do Reino de Deus. Deus chama, também, pessoas, e é a maioria, para a vocação matrimonial.Hoje, este domingo, está marcado por dois eventos realizados aqui no Santuário Nacional: o 2º. Simpósio da Família e a 4ª Peregrinação Nacional das Famílias, com o tema: “Família: Trabalho e Festa”.

Estes dois eventos estão em sintonia com o Encontro Mundial das Famílias, a realizar-se na cidade de Milão, Itália, no início do mês de junho. O trabalho e a festa estão intimamente ligados à vida das famílias. O trabalho, a festa fazem parte essencial da vida humana. Por meio do trabalho intelectual ou corporal, o homem continua a obra criadora de Deus. O trabalho aperfeiçoa e desenvolve as capacidades do homem e, além disso, é uma maneira do homem prestar um serviço ao próximo, à sociedade, com seu trabalho profissional competente e honesto. Infelizmente, hoje em dia, numa sociedade individualista, egoísta, o trabalho vem perdendo essa dimensão humana e é visto quase sempre em função do lucro que ele pode dar.

Os pais, muitas vezes, só estimulam, ou até, forçam os filhos a escolher uma profissão pensando apenas no dinheiro, na demanda do mercado e não na realização do filho ou da filha e no bem da sociedade. Muitos deles se frustram e abandonam mais tarde, a carreira que lhes foi imposta. A festa, também, faz parte da vida da família, pois há muitos acontecimentos, datas que devem ser celebrados com alegria pela família cristã: os aniversários de nascimento, de casamento, a formatura, certas festas, como o domingo, o Natal, a Páscoa, a Festa do Padroeiro, a festa de fim de ano, etc. A festa é uma parada na vida cotidiana da família para celebrar a própria vida que é dom de Deus, conviver, descansar e recobrar nova energia para prosseguir juntos com esperança na caminhada. É importante, que a família reflita sobre essas duas dimensões da vida e procure recuperar o verdadeiro sentido do trabalho e da festa na família e harmonizar essas duas exigências da vida humana.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Pronunciamento abertura da 50ª assembleia Geral da CNBB


Saúdo fraternalmente os senhores cardeais, arcebispos, bispos, administradores diocesanos; os assessores e assessoras da CNBB; o Senhor Reitor do Santuário Nacional, Padre Darci Nicioli; os presbíteros, religiosos e religiosas, os fiéis leigos e todos os participantes desta 50ª. Assembleia. Saúdo a todas as autoridades presentes, entre elas o ilustríssimo Sr. Prefeito de Aparecida, Márcio de Siqueira. E saúdo, cordialmente, os profissionais da imprensa aqui presentes e a todos os que nos acompanham pelos meios de comunicação – televisão, rádio e Internet.

Unidos em um só coração, e agradecidos a Deus Pai, que nos permitiu chegar à marca de cinquenta encontros, iniciamos os trabalhos da 50ª Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Esta é, verdadeiramente, uma assembleia comemorativa. Comemorar não é apenas festejar um acontecimento. É também honrar a memória, reverenciar o caminho feito, dignificar a participação dos pioneiros e de todos os que sustentaram a iniciativa.

Nosso encontro será um solene memento por todos os que, vivos ou já nos braços do Pai, contribuíram, em todos os tempos da história da CNBB, para sua criação e desenvolvimento. A assembleia deste ano, portanto, traz esse gesto de olhar para trás e faz-nos ver que construímos nossa identidade com ousadia e coragem evangélica.

Pela quinquagésima vez os bispos do Brasil se encontram em reunião de partilha fraterna, oração, estudo e reflexão, na busca do fortalecimento da comunhão entre si e com o sucessor de Pedro. Durante quase seis décadas, desde aquele remoto encontro em Belém do Pará, em agosto de 1953 – quando se realizou a 1ª Assembleia Geral da CNBB -, até hoje, o episcopado brasileiro percorreu um longo caminho, assinalado por importantes decisões e expressivas contribuições para o conjunto da Igreja no Brasil e da sociedade brasileira. Em cada uma das assembleias, houve uma evidente renovação do compromisso ministerial dos bispos perante os principais desafios apresentados pela realidade do País. Fundada no mandato de Cristo, as respostas a esses desafios foram sempre firmes e corajosas.

Ao longo dos sessenta anos da CNBB, as assembleias tornaram-se, pela força dos seus conteúdos e pelo singular respeito que a sociedade tem pelo episcopado, um ponto de referência no debate nacional. As declarações, os posicionamentos, os documentos e as orientações que emanaram dos cinquenta encontros realizadas no período estão clara e fortemente marcados nas páginas da história recente do Brasil. Os bispos jamais se intimidaram diante das diversas situações da realidade nacional, por mais complexas e delicadas que fossem. Por meio das assembleias, ofereceram sempre a contribuição de que o País precisava para progredir em suas lutas pelo amadurecimento democrático, pela superação da injustiça social e dos conflitos, para cuja solução era necessário um chamado à ética e à correção dos desmandos. Largamente divulgados pelos meios de comunicação social, os trabalhos dos bispos em assembleia sempre repercutiram de modo a expandir o testemunho da Igreja em favor da defesa da vida digna e plena para todos.

“A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” é o tema central desta Assembleia. Nele, encontramos a renovação do convite para retomarmos o que já meditamos com especial acento em nossa assembleia de 2010. O aprofundamento desse tema nos conduzirá, naturalmente, a uma volta às grandes orientações recebidas do Sínodo dos Bispos de 2008 e da Exortação Apostólica pós-sinodal “Verbum Domini”, que nos foi dirigida pelo Papa Bento XVI em 30 de setembro de 2010. O Santo Padre, no documento, lembra-nos que nos vemos “colocados diante do mistério de Deus que Se comunica a Si mesmo por meio do dom da sua Palavra. Esta Palavra, que permanece eternamente, entrou no tempo. Deus pronunciou a sua Palavra eterna de modo humano; o seu Verbo ‘fez-Se carne’ (Jo 1, 14). Esta é a boa nova. Este é o anúncio que atravessa os séculos, tendo chegado até aos nossos dias” (VD, 1).

Em nosso encontro, atentos a qualquer iniciativa que tem por escopo a evangelização, olharemos com carinho para os preparativos relativos à Jornada Mundial da Juventude, a realizar-se em julho do próximo ano. A Assembleia também nos dará oportunidade para o aprofundamento de outras duas comemorações que nos remetem ao mês de outubro deste ano: os 60 anos da criação da nossa Conferência e o marco dos cinquenta anos do início dos trabalhos do Concílio Vaticano II.

Certamente, em nossas discussões e propostas de trabalho, teremos de estar atentos a feliz iniciativa de Sua Santidade, o Papa Bento XVI, que nos pede para vivenciarmos - a partir da data em que lembramos o início do Concílio até a festa de Cristo Rei do ano 2013 -, um ano especial em que celebraremos as riquezas de nossa fé. O “Ano da Fé”, segundo orientação do Papa, deve ser “um momento de graça e compromisso para uma plena conversão a Deus, para fortalecer a nossa fé n'Ele e a anunciá-Lo com alegria ao homem do nosso tempo”.

O “Ano da Fé” terá início em 11 de outubro próximo, no âmbito da realização da 13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização. Durante a presente Assembleia, elegeremos os Delegados da CNBB para a Assembleia do Sínodo, e que deverão ser confirmados pelo Santo Padre.

O Papa Bento XVI criou um novo dicastério na Cúria Romana para animar, na Igreja, o tema da nova evangelização. Segundo seu presidente, Dom Rino Fisichella, é preciso acolher a “exigência de renovar tudo aquilo que é a capacidade da Igreja de levar o Evangelho de Jesus Cristo ao homem de hoje”. Iniciamos os trabalhos dessa 50ª. Assembleia dispostos a acolher e aprofundar essa exigência no âmbito da Igreja no Brasil. Uma eficiente implementação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora que aprovamos no ano passado, nas nossas Dioceses será capaz de mobilizar corações e forças para bem concretizarmos nossa ação pastoral sob a inspiração dessa oportuna iniciativa do Santo Padre.

Que o Santo Espírito de Deus nos ilumine para levarmos a bom termo os nossos trabalhos.

A todos os que aqui se encontram, àqueles que nos acompanham pelos meios de comunicação, enfim, a todos os fiéis de nossas Igrejas particulares suplico, ardentemente, orações pelo êxito de nosso encontro.

Aos participantes da Assembleia e aos que a apoiarão com seus trabalhos, manifesto a satisfação de recebê-los na Arquidiocese de Aparecida. É uma grande alegria hospedar o episcopado brasileiro sob o manto da Padroeira do Brasil. Aqui é o nosso lugar: nos braços da Mãe Santíssima! Agradeço ao Secretariado Geral da Conferência que trabalhou arduamente para nos dar condições de realizar mais esta assembleia geral. Agradeço igualmente ao Padre Darci Nicioli, Reitor do Santuário Nacional, aos missionários redentoristas e às suas equipes pelo esmero demonstrado nas providências tomadas para que nosso encontro alcance pleno sucesso. Desejo que tenhamos dias de bênçãos e fraterna alegria no convívio desta assembleia. Agradeço, igualmente, as palavras acolhedoras do senhor Prefeito de Aparecida, e a colaboração da Prefeitura para a realização da 50ª. Assembleia.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Missa de abertura da 50ª Assembleia Geral da CNBB


Caríssimos irmãos e irmãs: Acolho com alegria e especial apreço, neste Santuário, os estimados membros da CNBB: os senhores cardeais, arcebispos, bispos e administradores diocesanos; os assessores da CNBB; os subsecretários dos Regionais; os presidentes de organismos; os representantes das pastorais; os convidados para a Assembleia.

Saúdo cordialmente os queridos fiéis da Arquidiocese de Aparecida e os romeiros aqui presentes. Saúdo também os que nos acompanham pelos meios de comunicação - televisão, rádio e Internet -, pedindo-lhes que dirijam suas preces ao Bom Deus para que Ele nos ilumine e assista durante esta Assembleia.

As assembleias gerais de nossa Conferência Episcopal são momentos fortes de vivência do afeto colegial e de manifestação da comunhão existente entre nós e com o Santo Padre Bento XVI, cujo sexto aniversário da eleição como Pastor Supremo da Igreja, celebramos amanhã, e dia 24 próximo, celebraremos o 7º. aniversário do início do seu ministério petrino.

No contexto das assembleias gerais da CNBB, esta que ora se inicia – por ser a 50ª– reveste-se de um significado todo especial. É marco que enseja belas recordações, é momento de agradecimento pelo bem que assembleias anteriores fizeram à Igreja no Brasil e é ocasião de reconhecimento do quanto esses encontros nos ajudam, a nós, bispos, no exercício de nossa missão apostólica.

Caríssimos irmãos no episcopado: em estreita convivência, passaremos juntos os próximos dias. Será tempo vivido em oração, partilha fraterna, estudo e reflexão. A nossa “solicitude por toda a Igreja” (cf. 2 Cor 12,28), nos remeterá de um modo especial a diversos e importantes eventos da Igreja, cujas celebrações se aproximam. O próximo mês de outubro será um mês peculiar por motivo da coincidência de diversas grandes celebrações. Tocam-nos muito de perto e aumentam os motivos de nossa alegria e de comemoração, os sessenta anos de fundação da CNBB, que serão completados em 14 de outubro próximo e que teremos a oportunidade de, em conjunto, celebrar durante esta Assembleia.

Na agenda da Igreja universal consta, neste ano, a comemoração dos 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, acontecimento eclesial de grande magnitude, iniciado em 11 de outubro de 1962. Em outubro deste ano, comemoram-se também os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica. Para colaborar na difusão do Catecismo, foram elaborados também o Compêndio do Catecismo e, recentemente, o You Cat Brasil, publicado pela Paulus, e mais voltado aos jovens.

Coincidindo com o 50º aniversário do Concílio Vaticano II e o 20º aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, terá início em 11 de outubro vindouro um especial Ano da Fé, que o Santo Padre proclamou com o propósito de que ele seja “um momento de graça e de compromisso para uma conversão a Deus cada vez mais completa, para fortalecer a nossa fé n’Ele e para O anunciar com alegria ao homem do nosso tempo.” (Homilia, 16/10/2011).

Ainda em outubro do corrente ano, com a mesma motivação que inspirou a instituição do Ano da Fé, será realizada, entre os dias 7 e 28, a 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Bento XVI, e que tem por tema “A Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã”.
Queridos irmãos e irmãs: estamos no Tempo Pascal. Temos ainda bem presentes e muito vivas em nosso coração as ricas celebrações da Semana Santa, sobretudo as do Tríduo Pascal. É com a luz que recebemos da celebração da Páscoa do Senhor que, nesta 50ª Assembleia Geral, vamos nos dedicar ao aprofundamento do tema central “A Palavra de Deus na animação da vida e da ação evangelizadora da Igreja”. Temos o plano de finalizar, querendo-o Deus, este documento, e oferecer à Igreja no Brasil um válido instrumento de renovação e crescimento, pois, como afirmou o Concílio na Constituição Dogmática sobre a Palavra de Deus, “é lícito esperar um novo impulso de vida espiritual, se fizermos crescer a veneração pela palavra de Deus, que «permanece para sempre»” (nº. 26).

A primeira leitura da Santa Missa de hoje recorda-nos precisamente a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Os Sumos Sacerdotes do Templo e os partidários de Herodes, movidos pela inveja por causa dos inúmeros prodígios que Deus realizava por meio dos Apóstolos, mandaram prendê-los. Mas eles foram libertados pelo Anjo do Senhor, que lhes determinou continuassem a pregar com ousadia. Como não nos recordar do Mistério Pascal de Cristo? A prisão e a libertação dos Apóstolos são como que um prolongamento eclesial do mistério da Morte e da Ressurreição do próprio Senhor. A Palavra da Vida não pode ficar aprisionada na morte.

Chama particularmente nossa atenção a indicação que o Anjo faz a respeito do conteúdo que deveria ser pregado pelos Apóstolos: “Tudo o que se refere àquele modo de viver” (At 8, 20). Uma tradução mais literal diz: “tudo o que se refere àquela Vida”. Não uma teoria ou uma simples doutrina, mas um ensinamento a respeito de um modo de viver, de uma forma de vida. Trata-se, portanto, da vida cristã como participação na vida de Cristo que, “imolado, já não morre; e, morto, vive eternamente” (Prefácio da Páscoa III). Na carta aos Filipenses, São Paulo afirma que Jesus Cristo tomou a nossa “forma” (Fl2,6-7), tornou-se semelhante a nós. Agora, ressuscitado, nos concede participar da sua “forma de vida”, e isso é o que deve ser anunciado com ousadia.

Na Carta Apostólica Porta Fidei, o Papa Bento XVI afirma que “em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição” (nº 6). Portanto, é pela fé que se participa da Vida de Deus, que se entra nesse “modo de viver”. A última parte da resposta de Jesus a Nicodemos, que foi proclamada hoje no Evangelho, começa apresentando o motivo da Encarnação, Paixão e Ressurreição de Cristo: o amor infinito de Deus. “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). É essa a oferta que Deus continua a fazer ao mundo todo, por meio de sua Igreja, como nos recordou, com precisão, a primeira leitura. O amor de Deus, que O levou a dar-nos Seu Filho, é o mesmo motivo que O leva a determinar que o Evangelho seja pregado: para que todos, em Cristo, tenham a vida eterna, a luz, a verdade. Que todos possam encontrar a salvação, que é comunhão com Deus, com o amor da Trindade Santa.

Caríssimos irmãos e irmãs: a cada um de nós, a cada cristão, está confiado o dom desse imenso amor. A cada um de nós é também confiada a missão de anunciá-lo ao mundo, com “ousadia”, com entusiasmo. O testemunho de nosso “modo de viver” é necessário para que esse anúncio seja acreditável, acolhido e produza frutos.

Que esta 50ª Assembleia Geral da CNBB nos ajude nessa missão. Para isso nos confiamos à Virgem Mãe Aparecida que aqui nos acolhe e intercede por nós, para que, no amor salvador de Deus, e guiados pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, continuemos a “evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (cf. Jo 10,10), rumo ao Reino definitivo” (DGAE, Objetivo Geral).

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Missa pela Vida - Santuário Nacional - 12.04.12






Estamos no tempo pascal, período de 50 dias que se estende até a Solenidade de Pentecostes. A Igreja nos convida a viver, de modo particular neste tempo, da presença do Ressuscitado e do seu ensinamento.

Neste tempo pascal, a primeira leitura das missas é sempre um texto tirado do livro dos Atos dos Apóstolos, de tal maneira que isso facilita o acompanhamento do crescimento e da expansão da Igreja Católica no primeiro século do cristianismo, graças à pregação dos discípulos de Cristo e à ação do Espírito Santo.

A missão da Igreja nunca foi fácil e desde o começo, como se pode ver pelos Atos dos Apóstolos, a Igreja teve que enfrentar perseguição, indiferença, desprezo. A sua força, seu poder não está na dominação de um povo, na imposição de seus ensinamentos, mas no anúncio da Boa Nova do Evangelho, que é mensagem do amor a Deus e ao próximo, em especial, ao nosso semelhante mais frágil, indefeso, às vítimas de injustiça.

O julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a legalidade do aborto de bebês anencéfalos ainda terá a sua votação final.

Seja qual for a decisão do Supremo Tribunal, é importante recordar que o direito à vida é um direito fundamentado na natureza do homem, independente de religião ou de credo. A vida humana é sempre um dom gratuito e o primeiro e o maior dos direitos humanos sobre o qual os outros direitos se fundamentam, e como tal deve ser acolhida e defendida sem pré-condições. O amor verdadeiro consiste em doar-se sem reservas. Além disso, o direito à vida é garantido, de forma clara, pela Constituição do Brasil, em seu artigo 5º. que diz: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”. Vale também recordar que nem tudo que é legal é ético e moral. Portanto, o fato de alguém não ser penalizado pela prática do aborto de um bebê anencéfalo, por uma eventual decisão do STF, não exime ninguém da responsabilidade e do dever de seguir a sua consciência moral, guiada pela reta razão e a lei divina.

Nesta Celebração Eucarística e na Adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento após a missa, queremos rezar, atendendo ao pedido da Igreja no Brasil, a CNBB, por todos que cuidam e zelam pela vida humana, desde o seu início no ventre materno e a defendem e a promovem até o seu fim natural. Queremos rezar, de modo especial, pelas mães e os pais que geram e acolhem a vida de seus filhos, com um amor capaz de suportar tudo para defender a vida de seus filhos, convencidos de que a vida é dom e graça e está nas mãos do Senhor Deus. O discípulo de Cristo sabe que o Ressuscitado traz em seu corpo glorioso as marcas da paixão, e aquele que o segue sabe que seu seguimento é exigente e com Jesus é possível levar a própria cruz e vencer o próprio egoísmo. “Quem quiser seguir-Me, negue a si mesmo, carregue a sua cruz e Me siga” (Mc 8,34).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Páscoa - Santuário Nacional - 08.04.12


É páscoa, queridos irmãos e irmãs! Deus ressuscitou Jesus que passou deste mundo para junto do Pai, de onde ele veio para nos salvar e apontar o caminho a seguir, que é Ele mesmo, para chegar a pátria definitiva, pois somos cidadãos do céu e não temos aqui morada definitiva. “Este é dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos.” Com a ressurreição de Cristo uma luz brilhou na escuridão de nossas vidas destinadas à morte. Com Ele, a barreira da morte já não é mais intransponível. Ela é uma porta que se abre para a vida em plenitude com Cristo.

O evangelho que escutamos nos diz que Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, e viu que a pedra que tinham colocado na entrada do sepulcro tinha sido retirada do túmulo.

Maria Madalena foi correndo encontrar a Simão Pedro e João e lhes disse: “tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram.”

Pedro entra no sepulcro vazio, vê “as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, enrolado num lugar à parte”, e não entende nada. A reação de João foi completamente distinta: “Ele viu e acreditou”, diz o evangelho. João não necessitou de outras provas. O que ele viu foi suficiente para crer na ressurreição de Jesus e se recordou então que as Escrituras já haviam anunciado que Jesus haveria de ressuscitar. Como Maria Madalena, nós também nos perguntamos: onde está o Cristo ressuscitado? onde podemos encontrá-lo? Cristo ressuscitado continua vindo ao nosso encontro na leitura e na meditação da Sagrada Escritura que é palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo. Encontramos Jesus Cristo de modo admirável, na Sagrada Liturgia; na Eucaristia, lugar privilegiado do encontro do discípulo com Jesus Cristo; no sacramento da reconciliação, onde Cristo nos dá o dom de seu perdão; na oração pessoal e comunitária; na comunidade que vive a fé e o amor fraterno; nos pobres, aflitos e enfermos.

Assim como Maria Madalena, Pedro e João viram e creram no Cristo ressuscitado e se tornaram apóstolas suas, e partiram para anunciar a boa nova do Evangelho, assim também nós que confessamos a fé no Cristo Ressuscitado, devemos segui-lo e dar testemunho de nossa fé por uma fé vivida segundo o evangelho. A partir da ressurreição de Cristo, os cristãos, até hoje, se reúnem no primeiro dia da semana, isto é, no domingo, Dia do Senhor, para celebrar e anunciar o novo mundo que começa, a nova criação que esperamos, na qual habitará a justiça (II Pd 3,13). São Paulo nos recorda na segunda leitura de hoje que pelo batismo fomos sepultados e ressuscitados com Cristo para uma vida nova e quando Cristo, nossa vida, aparecer em seu triunfo, então, nós apareceremos com ele, revestidos de glória.

No próximo dia 11/04, quarta-feira da 1ª. Semana de Páscoa, o Supremo Tribunal Federal julgará, em sessão extraordinária, a possibilidade legal do aborto de fetos anencefálicos. A CNBB, por meio sua presidência, convida a todas as Dioceses, paróquias e comunidades a promoverem, às vésperas do julgamento, uma Vigília de Oração pela Vida. Participem da Vigília e envie, também, sua mensagem manifestando sua posição contrária à legalização do aborto para atendimento@stf.jus.br
A todos os presentes e aos que nos acompanham pelos meios de comunicação, meus votos de feliz e santa Páscoa celebrada na alegria do Cristo ressuscitado que com sua ressurreição destruiu a morte com a própria morte e deu-nos a vida para que, feitos filhos de Deus, exclamemos no Espírito: Abbá-Pai. Alegremo-nos, no Senhor, queridos irmãos e irmãs, pois Cristo Ressuscitou verdadeiramente, dentre os mortos. Ele venceu a morte, aleluia, aleluia!

Vigília Pascal - Santuário Nacional - 07.04.12


Nesta noite da vigília pascal, mãe de todas as vigílias, celebramos a festa mais importante para nós cristãos: a ressurreição de Jesus. Cristo ressuscitou! Aleluia, aleluia! Esse é o grande anúncio do jovem àquelas três mulheres, as mesmas que presenciaram de longe a crucifixão de Jesus, e foram ao túmulo bem cedo, onde Jesus tinha sido colocado, para ungir o seu corpo. “Não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Perguntou o jovem àquelas mulheres. Ele ressuscitou. Não está aqui.”

Na sexta-feira Santa parecia que tudo iria acabar mal, mas a vida de Jesus não terminou no calvário, nem no sepulcro. A páscoa, a ressurreição, que hoje celebramos é o final definitivo: Jesus venceu o pecado e a morte.

Em meio a tantas notícias negativas no mundo de hoje, a Páscoa de Cristo se manifesta na vida das pessoas que promovem a justiça, a paz e entregam sua vida a serviço do bem das pessoas, sobretudo, dos mais pobres, dos enfermos; a Páscoa de Cristo se manifesta, também, na vida dos jovens que apostam num mundo melhor do que o de hoje. Há muita gente que acredita na vida, porque acredita no Cristo vivo, ressuscitado.

Essas mulheres foram as primeiras a receberem o anúncio e as primeiras a levar essa grande notícia da ressurreição aos discípulos e a Pedro.

“O Nazareno, o homem com quem convivestes e vistes ser crucificado de modo injusto e incompreensível, ressuscitou.” Ressuscitado, Jesus Cristo se dirige ao lugar do começo do seu ministério, a Galiléia; aí vai reunir os discípulos dispersos e deixar-se ver por eles. E os discípulos, a partir de agora, deverão dar testemunho desse acontecimento sobrenatural.

Desde aquele momento, essa notícia desconcertante, destinada a mudar a sorte da história, continua repercutir de geração em geração: um anúncio antigo e sempre novo. Mais uma vez, ressoou durante esta Vigília Pascal e vai se difundindo nestas horas por toda a Terra” (João Paulo II).

Pelo batismo, como escutamos na carta de São Paulo aos romanos, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova. “Se Cristo não ressuscitou, escreve São Paulo aos Coríntios, ilusória seria a vossa fé e ainda viveis em vossos pecados e os que morreram como cristãos pereceram para sempre” (1 Cor 15,17). No coração de cada um de nós pulsa um desejo do infinito, de felicidade, e nenhuma realidade limitada pode satisfazer esse desejo. A busca da felicidade, dessa sede de infinito por caminhos equivocados ou em falsas respostas, pode levar a violência, a paixão de possuir, de dominar e de buscar somente o prazer. A frustração experimentada por não encontrar aí a verdadeira realização, pode levar a mais violência e até mesmo ao desespero.

Só o Cristo ressuscitado pode saciar nossa sede de felicidade e responder as indagações mais profundas do ser humano. Se participamos da vitória da ressurreição de Cristo, não podemos continuar tendo medo nem aceitar que a morte é senhora definitiva do homem.

Por Cristo e em Cristo, esclarece-se o enigma da dor e da morte, o qual fora do seu Evangelho, nos esmaga. Cristo ressuscitou, destruiu a morte com a própria morte e deu-nos a vida, para que, tornados filhos no Filho, exclamemos no Espírito: Abba, Pai.” (GS 22)

Que o Cristo ressuscitado ilumine nossos caminhos e o de toda a humanidade. Boas Festas de Páscoa aos missionários redentoristas que se dedicam ao trabalho evangelizador na nossa Arquidiocese, aqui no Santuário da Mãe Aparecida, aos padres diocesanos, aos consagrados, aos fiéis da Arquidiocese, às autoridades dos cinco municípios que integram a Arquidiocese de Aparecida, aos queridos romeiros e aos participantes da Campanha dos Devotos de N. Sra. Aparecida e a todos que nos acompanham pela TV e pelo rádio. Feliz e Santa Páscoa.

Queridos irmãos e irmãs, alegremo-nos, pois no Senhor: Ele ressuscitou verdadeiramente, aleluia, aleluia!

sábado, 7 de abril de 2012

Sexta-feira Santa - Santuario Nacional 06.04.12














Hoje, Sexta-Feira Santa, celebramos a Paixão e Morte de Jesus na cruz.

Hoje e amanhã não se celebra a eucaristia. São dias de silêncio, meditação, agradecimento, contemplação de Jesus morto na cruz, enquanto aguardamos a celebração da eucaristia na noite da Páscoa, mas podemos nesta celebração comungar do Corpo do Senhor entregue por nós.

O centro da celebração de hoje é a cruz de Cristo e a cor litúrgica é o vermelho, cor do sangue de Jesus, derramado, livremente, e por amor, por toda a humanidade.

As leituras que escutamos há pouco e a adoração da cruz que faremos, em seguida, nos convidam a contemplar, silenciosamente, emocionados e agradecidos, Jesus pregado na cruz para nos libertar do pecado e nos reconciliar com Deus. Numa sociedade tão barulhenta em que vivemos, a Igreja nos convida, particularmente, neste dia, a valorizar o silêncio, o recolhimento e a contemplação.

Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único não para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio dele” (Jo 3, 16-17).

O profeta Isaías anuncia um Servo que vai se entregar pelos pecados do mundo, sendo ele o santo, o justo, o inocente. “Foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes; a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas o preço de nossa cura” (Is 52,5).

O autor da Carta aos Hebreus nos diz que este Servo anunciado por Isaías é Jesus Cristo e nos descreve também a dor e o fracasso da morte do Servo com palavras que os evangelistas não haviam utilizado. “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido por causa de sua entrega a Deus” (Hb 5,7).

A narração da Paixão que neste dia é sempre a do evangelho de João nos mostra que Jesus sofreu não só por nós, mas conosco e muito mais do que nós. Salvou-nos não permanecendo nas alturas, mas assumindo toda a nossa dor. “E por nós homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus. Por nós foi crucificado, padeceu e foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia.” A paixão é apresentada por João como a hora de Jesus, o momento para o qual se dirige toda sua existência. A presença de Maria e do discípulo amado, na narração de João, completa a identidade da comunidade cristã, que nasce da cruz e se alimenta dos sacramentos do batismo e da Eucaristia, simbolizados no sangue e na água, jorrados do lado de Jesus e em Maria como mãe.

Na cruz de Cristo está presente toda a dor da humanidade, a nossa dor. Por isso, no rosto desfigurado de Jesus contemplamos ao mesmo tempo o rosto de tanta gente vítima da violência que se manifesta de tantas formas na nossa sociedade; os que sofrem pela injustiça no nosso mundo; as crianças e adolescentes vítimas do trabalho escravo ou do abuso sexual; os mendigos, o povo de rua, todas as vítimas da crueldade humana; os encarcerados submetidos a condições desumanas de vida; os enfermos sem o acesso aos serviços de saúde.

A morte de Jesus não foi fruto do azar. Pertence ao mistério de Deus, como o explica São Pedro aos judeus de Jerusalém, no dia de Pentecostes: “Jesus de Nazaré, entregue segundo o plano previsto por Deus, vós o crucificastes pela mão de gente sem lei, e o matastes” (At 2,23).

Ao entregar seu Filho por nossos pecados, Deus manifesta que seu desígnio sobre nós é um desígnio de amor benevolente que precede todo mérito de nossa parte: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas ele nos amou e enviou seu Filho para expiar nossos pecados” (I Jo 4,10). A prova de que Deus nos ama é que sendo ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8).

Ao contemplar Jesus cravado na cruz, devemos contemplar não só o seu sofrimento, mas a sua prolongação na humanidade e na nossa própria vida, mas sempre dentro da perspectiva pascal, do duplo movimento de morte e vida. A cruz foi a condição pela qual Jesus nos mostrou o seu amor e é caminho para nos unir a Ele e chegar a plenitude da vida.

A Sexta-Feira Santa aponta para a Vigília da noite de Sábado e para o Domingo da Ressurreição. A última palavra, tanto na vida de Jesus como na nossa vida, não é a dor nem a morte, mas a vida, a felicidade plena em Deus.

Diante da cruz de Jesus, agradeçamos-lhe o seu amor. Peçamos-lhe perdão de nossos pecados. Digamos que cremos Nele, que O amamos muito, que queremos segui-Lo até o fim de nossa vida, mesmo quando tivermos de carregar a cruz, que não é opcional; ela é inevitável, e que queremos fazer de nossa vida, à semelhança de Jesus, uma doação, um serviço aos outros.

O sofrimento sem amor e sem a participação na paixão de Cristo nos esmaga, não tem sentido, e pode nos levar ao desespero. Unido a Cristo e vivido por amor, e com certeza da ressurreição, o nosso sofrimento, a nossa dor, tornam-se mais leves e fonte de bênçãos para nós e para a humanidade.

Como cristãos temos o dever de lutar contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas associados ao mistério pascal e configurados à morte de Cristo, vamos ao encontro da ressurreição, fortalecidos pela esperança” (GS 22).

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Missa do Lava-pés - Santuário Nacional - 05.04.12


Iniciamos, nesta noite, com esta missa vespertina da Ceia do Senhor os três dias centrais de nossa fé: o Tríduo pascal. Só podemos entender de verdade, os mistérios que vamos celebrar na liturgia, se cremos e experimentamos que a celebração da paixão, morte e da ressurreição de Jesus Cristo são a expressão máxima do amor do Pai por nós. Somos convidados a acompanhar, com fé e com amor, a Jesus nos momentos derradeiros de sua vida terrena e “revestir-nos dos mesmos sentimentos de Cristo” ao reviver os mistérios centrais de nossa fé.

O centro da celebração da Quinta-Feira Santa é a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial e o novo mandamento do amor que Jesus deu aos seus discípulos. É o testemunho, a última vontade que Jesus deixa para os seus quando, Ele já não mais estiver entre eles fisicamente.

São João, o autor do quarto evangelho, não narra a instituição da Eucaristia, provavelmente, porque os outros três evangelhos e São Paulo já o haviam feito e, além do mais, quando João escreveu o seu evangelho no final do primeiro século, a celebração da eucaristia já era corrente nas comunidades cristãs.

Sabemos pelos evangelhos sinóticos e pela primeira carta de Paulo aos coríntios que escutamos há pouco que, na noite, antes de sua Paixão, Jesus instituiu a Eucaristia. “O Senhor Jesus tomou o pão e depois de dar graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. Depois da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”.

Jesus instituiu a Eucaristia, que é o sacramento, o memorial perpétuo das maravilhas de Deus realizadas por seu Filho Jesus. Jesus dá um sentido totalmente novo a páscoa judaica que ele celebrou com os seus discípulos, na noite, antes de ser entregue. A Páscoa judaica, como escutamos na primeira leitura do livro do Exodo, é o memorial, isto é, a atualização da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e sua caminhada para a terra prometida.

Na ceia, Jesus antecipa nos sinais do pão e do vinho o seu sacrifício e a entrega que ele fará no dia seguinte. O pão e o vinho são um sinal real e eficaz de Jesus que se entrega à morte para a salvação de todos num ato extremo de amor e de solidariedade para com a humanidade. É a nova e eterna aliança de Deus com a humanidade, selada no seu sangue. Os apóstolos só compreenderam o significado profundo daquela ceia depois que receberam o Espírito Santo, fruto da ressurreição de Jesus.

Por duas vezes, Paulo cita as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”. Jesus ordena, portanto, aos seus discípulos, constituindo-os sacerdotes do Novo Testamento e àqueles que na Igreja participariam ministerialmente do seu sacerdócio pela ordenação, que repetissem essas suas palavras, esse seu gesto de geração em geração, até a sua volta, para que ele continuasse presente no seu corpo e no seu sangue por meio dos sacerdotes ordenados.

Agradeçamos a Jesus a instituição da Eucaristia, memorial, atualização do sacrifício da cruz, presença salvífica de Jesus em nosso meio, alimento espiritual e garantia de vida eterna, sinal do seu grande amor por nós. Rezemos pelos nossos sacerdotes e pelas vocações sacerdotais para que não nos falte santos, preparados e numerosos ministros para anunciar a Palavra de Deus, administrar os sacramentos e servir o povo de Deus.

No lugar da instituição da Eucaristia, São João narra a cena do Lava-pés. Durante a ceia com seus discípulos, “Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”. Participar da Eucaristia, comungar o corpo e o sangue de Cristo, é comprometer-se a fazer da própria vida uma entrega fraterna e solidária aos nossos irmãos, especialmente, aos mais necessitados, os enfermos, os pobres, as pessoas com deficiência, os anciãos, as crianças.

A CF deste ano: Fraternidade e Saúde Pública, com e lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra”, recorda-nos que uma forma de exercer a caridade para com o outro é tomar consciência do direito que cada um de nós tem à saúde, a sua preservação e conservação, e para isso, o acesso aos serviços públicos de saúde que é um direito de todo cidadão e obrigação do Estado de garanti-los.

Todos nós batizados, a começar por quem preside a comunidade em nome de Cristo, devemos nos colocar humildemente a serviço da comunidade, dos homens e mulheres que formam a sociedade concreta em que vivemos: “dei-vos o exemplo, disse Jesus aos apóstolos, para que façais a mesma coisa que eu fiz”.

Missa do Crisma - Santuário Nacional - 05.04.12


A celebração eucarística, nesta manhã, de 5a. Feira-Santa, no Santuário Nacional da Padroeira do Brasil, presidida por mim e concelebrada pelos presbíteros diocesanos e por numerosos sacerdotes religiosos: é sinal de comunhão entre os sacerdotes do presbitério dessa Igreja particular de Aparecida e com o seu pastor que a preside na pessoa de Jesus Cristo.

Hoje é um dia muito especial para toda a Igreja, mas particularmente, para nós sacerdotes, pois, a Igreja revive neste dia a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Foi no cenáculo onde Jesus realizou pela primeira vez a celebração da Eucaristia. Foi lá que Jesus tomou nas mãos o pão, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e comei: Isto é o meu Corpo que será entregue por vós”. Depois, tomou nas suas mãos o cálice com vinho e disse-lhes: “Tomai, todos, e bebei: Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados.” Em seguida, Jesus ordenou aos seus discípulos e àqueles que na Igreja participariam ministerialmente do seu sacerdócio que repetissem essas suas palavras, esse seu gesto de geração em geração até o fim dos tempos: “Fazei isto em memória de mim.” Os pastores da Igreja são um dom do Senhor para a sua Igreja. É ele quem os santifica e os consagra com o dom do seu Espírito, quem os envia a celebrar seus mistérios para a salvação do mundo, quem os fortalece para ser colaboradores do seu Espírito, com a pregação da Palavra, para a edificação da Igreja. É por meio do ministério dos sacerdotes ordenados que Jesus se faz presente no seu corpo e no seu sangue.

Queremos nesta missa do Crisma agradecer, louvar a Cristo pela instituição da Eucaristia, dom do amor de Cristo a sua Igreja, memorial do sacrifício da cruz, presença salvífica de Jesus em nosso meio, alimento espiritual e garantia de vida eterna. Queremos, também, bendizer a Cristo pelos presbíteros, chamados a participar do seu sacerdócio ministerial para continuar a sua missão salvadora em favor dos homens neste mundo. Agradeçamos a Deus nesta eucaristia os sacerdotes, religiosos e diocesanos que exercem o seu ministério presbiteral na nossa Arquidiocese de Aparecida para o bem do nosso povo.

Nesta celebração eucarística os presbíteros concelebrantes irão renovar seus compromissos sacerdotais assumidos no dia da sua ordenação com o propósito de permanecer, com a ajuda de Deus, fiéis a sua vocação. Vão renovar o compromisso do celibato, como configuração ao estilo de vida do próprio Senhor Jesus, modelo de todo pastor e como sinal de sua caridade pastoral na entrega a Deus e aos homens, com o coração pleno e indivisível. Os sacerdotes irão renovar, também, seu compromisso de empenhar-se no exercício do tríplice ofício decorrente da ordenação: o anúncio da Palavra, a exemplo de Jesus que veio para evangelizar; a santificação dos fiéis pela administração dos sacramentos e a entrega generosa as pessoas confiadas aos seus cuidados pastorais, valorizando e acolhendo a todos, dando, porém, atenção especial aos enfermos, aos mais necessitados e indo ao encontro dos distanciados da comunidade paroquial.

Irei abençoar os óleos dos enfermos e dos catecúmenos e consagrar o óleo do crisma. Os santos óleos serão entregues aos párocos, ou aos representantes de comunidades no final da missa, que os levarão consigo para as suas paróquias para serem usados na administração de alguns dos sacramentos.

A comunhão dos presbíteros com o seu Bispo se expressa na renovação dos compromissos sacerdotais feita perante o Bispo e diante da comunidade dos fiéis. Igualmente, a bênção e a entrega dos santos óleos pelo Bispo aos párocos significam que o ministério do Bispo se prolonga, se faz presente, em cada comunidade, através do ministério de cada presbítero.

O Bispo não pode estar presente em cada paróquia, por isso, ele se faz presente no ministério do sacerdote ordenado por ele e ao qual ele confia o cuidado pastoral de uma porção do povo de Deus na Diocese.

Caros irmãos, no ministério presbiteral, o padre é um “servidor da comunhão eclesial”, essa é a sua missão juntamente com o anúncio do Evangelho. Comunhão que deve ser exercitada continuamente no interior de toda a Igreja diocesana, no interior de cada paróquia, “entre os sacerdotes, religiosos e leigos, evitando divisões estéreis, críticas e suspeitas nocivas”.

O Documento Conclusivo da V Conferência afirma que o presbítero deve amar e realizar sua tarefa pastoral em comunhão com o bispo e com os demais presbíteros da diocese, com os religiosos e leigos. O ministério sacerdotal que brota da Ordem Sagrada tem radical forma comunitária e só pode desenvolver-se como tarefa coletiva. Nenhum sacerdote pode realizar plenamente o seu ministério isoladamente, fora da comunhão com seu presbitério e com o seu Bispo. No encontro com o clero de Roma, no início da quaresma, o Papa Bento XVI chamava a atenção para o cultivo de três virtudes que são indispensáveis para caminharmos juntos no seguimento de Cristo: “A humildade que é viver a verdade; é aceitar a mim mesmo como pensamento de Deus, tal como sou, nos meus limites e desta forma, na minha grandeza, como imagem e semelhança de Deus. Só aceitando-me a mim no grande tecido divino posso aceitar também os outros, que formam comigo a grande sinfonia da Igreja e da criação.” A segunda virtude é a doçura, a mansidão que não quer dizer debilidade, fraqueza. Cristo foi firme, mas sem deixar de ser manso, bondoso. A terceira virtude à qual o Papa se referiu é a capacidade de não só suportar, mas de aceitar “àquele que em Jesus Cristo é meu irmão ou minha irmã e no qual devo enxergar a riqueza do seu ser e das ideias da fantasia de Deus.” Peçamos a Deus que nos dê a graça de crescermos a exemplo de Cristo, o Bom Pastor, manso e humilde de coração, na humildade, na mansidão, e na aceitação e valorização do outro.

Aproveito o ensejo desta celebração da missa do Crisma e o início do Tríduo Pascal para desejar aos presbíteros diocesanos e religiosos, aos consagrados, aos seminaristas, a todos os fiéis desta Igreja Particular, aos romeiros e aos prezados rádio-ouvintes e telespectadores, um Santo Tríduo Pascal.

Aos presbíteros do clero diocesano e do clero religioso, o meu apreço e meu agradecimento pela pessoa e o ministério de cada um, a serviço desta Igreja local de Aparecida. A todos meus sinceros votos de uma feliz e santa Páscoa na alegria do Cristo Ressuscitado!

domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos - Santuário Nacional - 01/04/2012


Com a celebração de Domingo de Ramos, a Liturgia da Igreja inicia a Semana Maior, a Semana Santa. Na semana santa somos convidados a participar das celebrações e procissões para entrar no centro de nossa fé que é o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador!

A liturgia deste domingo é uma síntese do que vamos celebrar nesta semana. Na primeira parte da celebração, recordamos a entrada de Jesus em Jerusalém, aclamado pelo povo. É a antecipação da alegria pascal, do triunfo do Cristo que, ao morrer, derrota a morte, o pecado e o príncipe das trevas, e nos faz participantes de sua vitória.

Os ramos abençoados no início desta celebração, nós iremos levá-los para casa e os conservaremos com muito respeito. Eles são para nós um sacramental, isto é, um sinal da proteção de Deus e ocasião para renovar nossa fé em Jesus Cristo com o propósito de testemunhá-lo no ambiente familiar, no trabalho e na vida social, com as nossas ações em defesa da vida, da justiça, da dignidade da pessoa humana, particularmente, das pessoas mais necessitadas e de contribuir com a construção de uma sociedade mais segura e com paz, que é fruto da justiça.

As leituras que acabamos de escutar e, principalmente, a narração de Marcos da Paixão de Jesus nos introduzem no mistério do sofrimento e da morte de Jesus, que vamos celebrar na Sexta-Feira Santa. Através dos gestos, das palavras de Cristo e dos detalhes narrados nos textos que escutamos, descobrimos até onde chega o amor de Deus para conosco.

O Rei que entra em Jerusalém, montado não em um cavalo, como faziam os imperadores, mas num jumentinho. Ele é um rei humilde e servidor, solidário com a humanidade sofredora e que na Sexta-Feira Santa, iremos contemplá-lo pregado na cruz.

“Na Paixão, a misericórdia de Cristo, o seu amor na sua forma mais radical, vence o pecado. Na Paixão é onde o pecado manifesta melhor sua violência e as suas mais variadas facetas: a incredulidade, a rejeição e o escárnio, por parte dos chefes e do povo; a fraqueza de Pilatos; a crueldade dos soldados; a traição de um de seus discípulos, Judas Iscariote; a negação de Pedro, chefe dos apóstolos, e o abandono dos demais discípulos. Na hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de Cristo converte-se, todavia, secretamente, na fonte da qual brotará de maneira inesgotável o perdão de nossos pecados” (CIC 1851; 1992).

Para uma sociedade individualista, hedonista, e confiada apenas no progresso material e em busca de prazer, de prestígio e poder, a Paixão e a Cruz de Cristo são escândalo e loucura como o foram, outrora, para os judeus e para os gregos.

Para nós cristãos, a cruz, antes, instrumento de morte, agora é fonte de vida, salvação, ressurreição; o começo de um novo mundo.

Jesus mudou a história. Aqueles que o haviam abandonado e haviam se dispersado voltaram, recobraram a esperança, reagruparam-se em torno do Cristo ressuscitado e iluminados e fortalecidos pelo Espírito Santo, levaram a Boa Nova do Evangelho, a todo o mundo, fundando as primeiras comunidades cristãs, das quais nós, hoje, Igreja de Jesus Cristo, una, santa, católica e apostólica, somos os continuadores e chamados, igualmente, a ser fermento de uma nova sociedade e a iluminar a sociedade com a luz de Cristo, porque somente quem o segue não anda em meios as trevas, mas tem a luz da vida.

Ao contemplarmos, nesta Semana Santa, Jesus na sua paixão, morte e ressurreição, renovamos nossa fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador. Agradeçamos o seu amor por nós. Arrependamo-nos de nossos pecados e peçamos o perdão de Deus no sacramento da penitência e aproximemo-nos da Eucaristia onde Jesus vem ao nosso encontro e assim, podermos também experimentar a alegria da ressurreição do Cristo em nosso coração. Que nada nos afaste da contemplação amorosa de Cristo, nosso Salvador. Agradeçamos-lhe com humildade e contritos de coração, o seu imenso amor para conosco.

Hoje é dia da Coleta da Campanha da Fraternidade. A Igreja pede a nossa oferta para o Fundo de Solidariedade que, neste ano, destinará os recursos arrecadados ao financiamento e apoio de projetos relacionados ao tema da CF deste ano: Fraternidade e Saúde Pública. Não deixe de manifestar sua solidariedade com o gesto concreto de sua oferta.