sábado, 30 de março de 2013

Celebração da Paixão do Senhor - Santuário Nacional


Hoje celebramos a Paixão e morte do nosso Redentor. Cada ano, escutamos as palavras do texto sagrado que nos descrevem o caminho da via-sacra percorrido por  Jesus que o conduziu ao término de sua vida terrena, ao momento supremo e definitivo de sua entrega livre e por amor ao Pai  para a nossa redenção.  

A cor vermelha usada na liturgia de hoje, é a cor do sangue, do martírio, do amor ao extremo. É a cor do sacrifício e da vitória,  não da derrota. Cristo o vencedor. No seu Filho, Deus coloca sobre ele toda a humanidade sofredora na luta contra o poder das trevas para que todos nós possamos ter vida para sempre,  querida por Ele, desde o começo da criação.

Não podemos permanecer indiferentes diante da crueldade dos sofrimentos de Jesus. Somos convidados a contemplar com emoção e agradecimento a cruz na qual Jesus morreu e a meditar sobre a lição da entrega, da solidariedade, a mais eloquente, jamais vista na história humana, cuja meditação tem transformado muitas pessoas em  santos e santas ao longo de todos os tempos, pois “um amor tão grande só com amor se paga”.

Jesus durante a sua vida, sua agonia, sua paixão e morte conheceu a cada um de nós pelo nome e nos amou a todos, e se entregou livremente e por amor para a nossa salvação. Ele aceitou até as últimas consequências a solidariedade com todos nós.  É esta a razão da morte de Jesus : a profunda solidariedade de Deus para conosco.   Nos   amou até o fim, até  o extremo, como diz São João, e podemos contemplá-Lo morto na cruz, e é este amor que confere valor de redenção e reparação, de expiação e satisfação ao seu sacrifício redentor. 

Estamos aqui para pedir perdão de nossos pecados, causa mais grave  dos sofrimentos de Jesus. Estamos aqui porque acreditamos que o caminho de Jesus é o caminho da verdade, da justiça, da solidariedade, do amor, da fidelidade, da verdadeira vida. Estamos aqui  porque acreditamos que a sua morte e a sua ressurreição nos salvam, nos dão vida e sentido ao nosso sofrimento,  e nos enchem de uma plenitude que não podemos encontrar em lugar nenhum, nem em pessoa alguma. 

Em Jesus, Deus se nos manifestou plenamente, e diante da cruz podemos dizer com toda fé como o soldado romano e os que com ele guardavam a Jesus: “De fato, este era o Filho de Deus” (Mt 27,57). Queremos não só professar a nossa fé em Jesus, Filho de Deus e nosso Salvador, mas também, dizer que desejamos viver profundamente unidos a Ele. Para isso, prometemos, com a ajuda de Deus, observar os seus mandamentos que se resumem no amor a Deus e no amor ao próximo. “Aquele que guarda os meus mandamentos permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 3, 24).

Na leitura da paixão,  ouvimos São João dizer que “um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis” (Jo 18, 34-36). Esta passagem de João expressa a riqueza que nasce da cruz de Jesus. Jesus é a água capaz de saciar nossa sede do infinito, de imortalidade e de vida em plenitude. Ele é a fonte de água viva. “Se alguém tem sede, venha a mim e beberá e nunca mais terá sede”.

O sangue que saiu do seu lado traspassado pela lança é o sangue da entrega total, do amor que se dá sem limites e sem reservas.

Esta água e este sangue recordam o Batismo que nos regenerou e a Eucaristia, coração da Igreja e o tesouro mais precioso que Jesus lhe confiou.

Com fé nesta vida que nasce da cruz de Cristo, vamos rezar pela Igreja e pelo mundo inteiro. Vamos também adorar a Jesus morto e ressuscitado, manifestando o nosso agradecimento e a nossa confiança em Jesus que se entregou por nós e nos convida a seguir seu exemplo de doação ao nosso próximo. 

Na sua cruz devemos escutar também o grito, a dor de todos os que sofreram e continuam sofrendo os horrores da guerra, da violência, da injustiça, do desemprego, dos milhões que vivem na miséria,  dos nascituros inocentes sacrificados ao serem concebidos, ao negar-lhes o direito à vida, sob o falso pretexto de que é mais cômodo eliminar quem nos estorva, nos incomoda, enfim, dos crucificados de tantas maneiras. 

Não podemos ficar indiferentes ante o sofrimento humano. A cruz de Cristo propõe-nos a caridade e a solidariedade como resposta ao pecado,  à violência, ao egoísmo, ao individualismo de hoje. 

Depois da adoração de Cristo na cruz, a Igreja nos convida a comungar: é o Cristo em  pessoa, vivo para além da morte que nós veneramos ao recebê-lo na hóstia, consagrada  no dia de ontem, para que em nossa vida vivamos a mesma atitude sua, uma atitude de amor e de entrega, de compromisso com a defesa   da vida e da dignidade da pessoa humana. 

Tudo que Jesus podia ter feito por nós, Ele o fez. No momento derradeiro de sua vida terrena, vimos no evangelho de São João que, Jesus, na pessoa do discípulo amado,  que representava todos nós, deu-nos Maria por mãe  espiritual e nos colocou sob o seu amparo maternal. 

“Jesus vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: Mulher, eis teu filho”. Depois  disse ao discípulo: Eis tua mãe”.

Caros irmãos e irmãs, peçamos a Deus a graça de aprender da meditação da paixão e morte de Jesus que o mal se vence com o bem e nunca devemos  responder  ao mal que alguém nos fez com violência.  “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem”. Assim rezou Jesus ao Pai  pelo seus malfeitores.  Juntamente, com essa atitude pacificadora de Jesus, a sua ressurreição nos dá a certeza de que a vida vencerá a morte, o bem vencerá o mal, por isso, podemos cantar com esperança: Vitória, tu reinarás, ó cruz, tu nos salvarás!

Missa do Lava - Pés - Santuário Nacional


Iniciamos, nesta noite, com esta missa vespertina da Ceia do Senhor o Tríduo pascal: a celebração  da morte e da ressurreição do Senhor. Somos convidados a acompanhar Jesus nos momentos derradeiros de sua vida terrena, de sua passagem deste mundo para o reino de seu Pai.

A comemoração da Ceia do Senhor condensa diversos elementos básicos da vida cristã: a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial e o novo mandamento do amor que Jesus deu aos seus discípulos.

São João, o autor  do quarto evangelho, não narra  a instituição da Eucaristia, provavelmente, porque os outros três evangelhos e São Paulo já o haviam feito e, além do mais, quando João escreveu o seu evangelho no final do primeiro século, a celebração da eucaristia já era corrente nas comunidades cristãs.

Sabemos pelos evangelhos sinóticos e pela primeira carta de Paulo aos Coríntios que escutamos há pouco na segunda leitura que, na noite, antes de sua Paixão, Jesus instituiu a Eucaristia.  É um texto muito importante do ponto de vista histórico, porque data dos anos 50 a 52 de nossa era. É pois o texto mais antigo sobre a Eucaristia. “O Senhor Jesus tomou o pão e depois de dar graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. Depois da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 

Jesus instituiu a Eucaristia, que é o sacramento, o memorial perpétuo das maravilhas de Deus realizadas por seu Filho Jesus. A ceia narrada e transmitida por São Paulo conforme ele mesmo recebeu, não nega o rito da ceia pascal dos judeus, mas a aperfeiçoa.  Jesus dá um sentido totalmente novo a páscoa judaica que ele celebrou com os seus discípulos, na noite, antes de ser entregue. A Páscoa  judaica, como escutamos na primeira leitura do livro do Êxodo, é o memorial, isto é, a atualização da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.

Na ceia, Jesus antecipa no gesto tão humano de entrega do pão e do vinho,  o dom do seu corpo e do seu sangue oferecidos sobre a cruz para selar no coração do homem, da  humanidade, a nova aliança  de Deus com o seu povo, a partir de agora indestrutível, eterna.  É a nova e eterna aliança de Deus com a humanidade, selada no seu sangue. Jesus agradece ao seu Pai do qual Ele tudo recebeu; Ele se oferece ao Pai e Ele mesmo é o  sacerdote, o Sumo Sacerdote na expressão da Carta aos Hebreus, que intercede por nós junto de seu Pai.

Por duas vezes,  na narração da instituição da Eucaristia, Paulo cita as palavras de Jesus: “Fazei isto em memória de mim”.  Jesus ordena, constitui, portanto, os seus discípulos, sacerdotes do Novo Testamento e àqueles que na Igreja participariam ministerialmente do seu sacerdócio pelo sacramento da Ordem, manda que repetissem essas suas palavras, esse seu gesto de geração em geração, até a sua volta.

Agradeçamos a Jesus a instituição da Eucaristia, memorial, atualização do sacrifício da cruz, presença salvífica de Jesus em nosso meio, alimento espiritual e garantia de vida eterna. A Eucaristia, como afirma o Concílio Vaticano II, retomando as palavras de Santo Agostinho: “é o sacramento do amor, sinal de unidade e vínculo da caridade, banquete pascal no qual Cristo é comido, a alma é cumulada de graça e nos é dado o penhor da vida eterna.” Rezemos pelos nossos sacerdotes e pelas vocações sacerdotais para que não nos falte santos, qualificados e numerosos  ministros para anunciar a Palavra, celebrar a Eucaristia e  servir o povo de Deus.

São João não apresenta a última ceia de Jesus como a celebração da páscoa judaica, mas dá por meio da narração da cena do Lavapés, o sentido profundo da  Eucaristia: o amor de Deus nos é plenamente manifestado neste gesto simples e humilde de Jesus. Jesus que “veio de Deus e volta a Deus”  se coloca na condição  de escravo para nos renovar inteiramente e pela oferta de sua vida  nos tornar capazes de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou. 

Durante a ceia com seus discípulos, “Jesus levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”.  Participar da Eucaristia, comungar o corpo e o sangue de Cristo, é comprometer-se a fazer da própria vida uma entrega fraterna e solidária aos nossos irmãos, especialmente, aos mais necessitados, os enfermos, os pobres, as pessoas com deficiência, os anciãos, as crianças.  

Diante do mundo de hoje no qual  muitos procuram levar vantagem em tudo e vivem, segundo a divisa “salve-se quem puder”, o evangelho proclama que a solidariedade dá sentido à vida e que a solidariedade culmina nesse amor que, a exemplo de Jesus,  se doa ao outro até o extremo. Sem a vivência do amor não pode haver Eucaristia. Acompanhemos em oração, nesta noite a Jesus no jardim das Oliveiras, e amanhã na celebração de sua morte. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Missa do Crisma - Santuário Nacional


Terminada a quaresma, iniciamos no Domingo de Ramos, a Semana Santa, cujo coração é o Tríduo Pascal, centro do ano litúrgico, no qual celebramos os mistérios da paixão, morte e ressurreição do Senhor. 

Nesta manhã, de 5a. Feira-Santa, no Santuário Nacional da Padroeira do Brasil, a Eucaristia presidida por mim e concelebrada pelos presbíteros diocesanos e por numerosos sacerdotes religiosos, com a participação de religiosos consagrados, seminaristas e fiéis leigos, é sinal de comunhão entre os sacerdotes dessa Igreja particular de Aparecida e com o seu pastor.

Hoje é um dia muito especial para toda a Igreja, mas particularmente, para nós sacerdotes, pois na celebração da Ceia do Senhor,  a Igreja condensa diversos elementos básicos da vida cristã: a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial, como serviço a comunidade e o novo mandamento da caridade. 

 Foi no cenáculo onde Jesus realizou pela primeira vez a celebração da Eucaristia. Foi lá que Jesus tomou nas mãos o pão, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e comei: Isto é o meu Corpo que será entregue por vós”. Depois, tomou  nas   suas mãos o cálice com vinho e disse-lhes: “Tomai, todos, e bebei: Este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos para remissão dos pecados.” Em seguida, Jesus ordenou aos seus discípulos  e àqueles que na Igreja participariam ministerialmente do seu sacerdócio que repetissem essas suas palavras, esse seu gesto de geração em geração até o fim dos tempos: “Fazei isto em memória de mim.” Os pastores da Igreja são um dom do Senhor para a sua Igreja. É ele quem os chama,  santifica e os consagra com o dom do seu Espírito, e  os envia a celebrar seus mistérios para a salvação do mundo. É o Senhor quem  os fortalece para ser colaboradores do seu Espírito, com a pregação da Palavra, para a edificação da Igreja.

Ninguém  tem direito ao sacerdócio. Ninguém pode escolhê-lo como se escolhe um emprego qualquer. “Todo Sumo Sacerdote, tirado do meio dos homens,   afirma a Carta aos Hebreus, é nomeado representante deles diante de Deus.  Ninguém, pois, atribua esta honra senão o que foi chamado por Deus.” (Hb 5,1-4). 

O dom da vocação ao sacerdócio ordenado é um tesouro que trazemos, porém, em vaso de barro, como afirmava São Paulo em relação ao seu ministério apostólico. A consciência da nossa debilidade deve nos levar a cultivar a humildade, a união com Deus na oração, pois é dele que vem  a fidelidade e não de nossas forças. 

Queremos nesta missa  do  Crisma agradecer, louvar  a Cristo pela instituição da Eucaristia, dom do seu amor a sua Igreja, memorial do sacrifício da cruz, presença salvífica de Jesus em nosso meio, alimento espiritual e garantia de vida eterna. Queremos, também, bendizer a Cristo pelos presbíteros, chamados a  participar do seu sacerdócio ministerial  para continuar a sua missão salvadora em favor dos homens neste mundo. 

Durante esta celebração eucarística os presbíteros concelebrantes irão renovar seus compromissos sacerdotais assumidos perante Deus, o Bispo ordenante  e fiéis no dia da sua ordenação,  com o propósito de permanecer, com a ajuda de Deus, fiéis a sua vocação. Vão renovar o compromisso do celibato, como configuração ao estilo de vida do próprio Senhor Jesus, modelo de todo pastor e como sinal de sua caridade pastoral na entrega a Deus e aos homens, com o coração pleno e indivisível.

 Os sacerdotes irão renovar, também, seu compromisso de empenhar-se no exercício  do tríplice ofício decorrente da ordenação: o anúncio da Palavra, a exemplo de Jesus que veio para evangelizar; a santificação dos fiéis pela administração dos sacramentos e a entrega generosa e sem reservas  às pessoas confiadas aos seus cuidados pastorais, valorizando e acolhendo a todos, sem distinção, dando, porém, atenção especial aos enfermos, aos mais pobres e aos  distanciados da comunidade paroquial.

O Arcebispo irá abençoar os óleos dos enfermos e dos catecúmenos e consagrar o óleo  do  crisma. Os santos óleos serão entregues aos párocos, ou a representantes de comunidades no final da missa, que os levarão consigo para as suas paróquias  para serem usados na administração de alguns dos sacramentos.

A comunhão dos presbíteros com o seu Bispo se expressa na renovação dos compromissos sacerdotais feita perante o Bispo e diante da comunidade dos fiéis. Igualmente, a bênção  e a entrega dos santos óleos pelo Bispo aos párocos significa que o ministério do Bispo se prolonga, se faz presente, em cada comunidade, através do ministério de cada presbítero.

O Bispo não pode estar presente em cada paróquia, por isso, ele se faz presente no ministério do sacerdote ordenado por ele e ao qual ele  confia o cuidado   pastoral de uma porção do povo de Deus  da Diocese.

Caros irmãos, no ministério presbiteral, o padre é um “servidor da comunhão eclesial”, essa é a sua obrigação juntamente com a missão de evangelizar.  Comunhão que deve ser exercitada continuamente no interior de toda a Igreja diocesana, no interior de cada paróquia, mas particularmente, no interior do presbitério.

O Documento Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, afirma que o presbítero deve amar e realizar sua tarefa pastoral em comunhão com o bispo e com os demais presbíteros da diocese. O ministério sacerdotal que brota da Ordem Sagrada tem radical forma comunitária e só pode desenvolver-se como tarefa coletiva. Nenhum sacerdote pode realizar plenamente o seu ministério isoladamente, fora da comunhão com seu presbitério e com o seu Bispo. 

Aproveito o ensejo desta celebração da missa  do Crisma e o início do Tríduo Pascal para desejar aos presbíteros diocesanos e religiosos, aos religiosos consagrados, aos seminaristas, a todos os fiéis desta Igreja Particular, aos romeiros e aos prezados rádio-ouvintes e telespectadores, um Santo Tríduo Pascal. 

Aos presbíteros do clero diocesano e do clero religioso, desejo antecipadamente uma Feliz e Santa Páscoa, pois certamente não terei  outra ocasião  de encontrá-los todos reunidos como ocorre agora, nesta celebração do  Crisma. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Missa de Ramos - Santuário Nacional


Neste domingo a Igreja celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém como Rei para, em seguida, consumar o seu mistério pascal, isto é, sua paixão, morte e ressurreição. Jesus entra em Jerusalém não como faziam os imperadores, acompanhados por suas legiões, nem como os reis deste mundo.

 Ele, ao contrário, entra de maneira humilde, montado em um jumentinho, aclamado pela multidão dos discípulos  e reconhecido como o Rei humilde e pobre, bendito de Deus: “Bendito o rei, que vem em nome do Senhor! Paz nos céus e glória nas alturas”   (Lc 19,38). 

Essa entrada de Jesus em Jerusalém nos traz a mente as palavras do novo Papa, o Papa Francisco, aos jornalistas que cobriram a sua eleição: Francisco de Assis é para mim “o homem da pobreza, o homem que ama e guarda a criação; é o homem que nos dá esse espírito de paz; o homem pobre. Ah! Como queria uma Igreja pobre para os pobres.”

A liturgia deste domingo de Ramos se caracteriza, pois, por dois momentos distintos, próprios do mistério pascal: um de glória, de alegria, o da entrada triunfal de Jesus na cidade santa; e, um  outro,  de sofrimento, de dor, marcado pelo anúncio da paixão e da morte  de  Cristo na cruz.

As leituras bíblicas que acabamos  de escutar nos falaram da paixão e morte de Jesus. O profeta Isaías nos apresentou a figura do Servo Sofredor, esse personagem misterioso, marcado pelo sofrimento  mas que não se deixou abater porque Deus estava com ele. O servo de Javé é a figura de Jesus que assumiu voluntariamente a paixão e morte para solidarizar-se conosco pecadores e com todos os que são vítimas do mal, da injustiça, do sofrimento. 

O texto de Isaías termina com o anúncio de que a morte não terá a palavra final: “conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado”.

Paulo na Carta aos Filipenses também anuncia a vitória de Jesus sobre a morte: “Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o nome que está acima de todo nome.”

No evangelho escutamos a leitura da paixão e morte de Jesus na versão que nos deixou o evangelista Lucas. Para ele, Jerusalém é o lugar para onde converge e onde termina a vida de Jesus. É  também o lugar de partida, do início, depois de Pentecostes, da missão da Igreja, a de anunciar o Evangelho a todos os povos até a consumação dos séculos (Mt 28, 19-20).

O texto da paixão narrado por São Lucas antecipa todos os acontecimentos que celebraremos nesta Semana Santa, no tríduo pascal:  a instituição da eucaristia, o mandamento do amor,  o sacerdócio como serviço à comunidade, a paixão, morte e ressurreição de Jesus. 

Os dias da Semana Santa, inaugurada  com o Domingo de Ramos, podem e devem ser uma oportunidade para gozarmos  de um merecido descanso junto aos familiares e amigos, mas também,  e, sobretudo, tempo para participarmos com amor e com fé  das celebrações em nossas paróquias, comunidades, não como meros espectadores, mas vivendo, em cada dia da semana, o caminho da redenção que Jesus nos oferece e reconhecê-lo e proclamá-lo como fez  o oficial do exército romano, que ao ver o que aconteceu com Jesus, conforme o relato de São Lucas, glorificou a Deus dizendo: “De fato! Este homem era justo” (Lc 23,47).

Jesus certamente era “homem justo”, “o inocente”, como o reconheceu o próprio Pilatos. Para nós também Jesus é certamente “o inocente”, mas é também  e, sobretudo, “o Filho de Deus”, conforme exclama o centurião na versão de São Mateus e São Marcos: “Realmente, este homem era o Filho de Deus” (Mt 25,54; Mc 15,39)

Ao meditarmos sobre a Paixão de Cristo, não devemos nos esquecer que nós pecadores fomos os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos que suportou o Divino Redentor.

Nesta semana encerra-se a Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e Juventude”. Ofereçamos, neste dia, da coleta da Campanha da Fraternidade, nossa contribuição material para financiar, principalmente, projetos voltados para a formação de nossos jovens, para que possam exercer o seu protagonismo nas nossas  comunidades e na sociedade, contribuindo  com a missão evangelizadora da Igreja e com a construção da civilização do amor.  Participemos em nossas comunidades da preparação da Jornada Mundial da Juventude e da Semana Missionária nas Dioceses, que antecede a Jornada.  

Que Maria,  nos ajude a entrar nesta Semana Santa numa relação mais verdadeira e pessoal com Jesus,  nosso Salvador.

Que a Virgem de Aparecida nos ensine a fixar nosso olhar de amor em Deus Pai  que foi o primeiro a nos amar e nos enviar seu Filho para expiar os nossos pecados. Que Ela forme em nós um coração de discípulo e missionário, como nos recorda o tema da   V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, em Aparecida, e que a seu exemplo estejamos sempre prontos em nossa família e no ambiente social,  para  nos colocarmos  à escuta do seu Filho, que nos revela o autêntico rosto do Pai e a verdadeira dignidade de cada  homem e de cada mulher.

Guardemos em casa os ramos que foram abençoados como sinal de nossa fé no Cristo, Messias e Senhor e do nosso compromisso de testemunhar   os valores do Evangelho: o serviço, a humildade, a simplicidade,  a solidariedade, o amor, a paz.

Que a celebração da Páscoa de Cristo seja também nossa Páscoa: que passemos do velho homem ao novo homem, renovados espiritualmente;  da escravidão à verdadeira liberdade; do pecado a uma amizade com Deus pela vida da graça em nós, aprofundada ou recobrada no sacramento da misericórdia e da Eucaristia. 

Uma abençoada Semana Santa para todos!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa


Com a Quarta-Feira de Cinzas e com a Campanha da Fraternidade inicia-se a Quaresma, tempo de preparação para a grande festa da Páscoa, coração do Ano Litúrgico. Esse tempo litúrgico se encerrará com o Domingo de Ramos que nos introduzirá na celebração do mistério pascal de Cristo: a sua morte, ressurreição, ascensão e o dom do Espírito Santo em Pentecostes. 

Toda festa exige preparação e quanto mais importante e grandiosa, tanto mais longa e cuidadosa deve ser a preparação. Às vezes, a festa  é tão importante que a sua celebração se prolonga por vários dias. Assim sucede com a Páscoa que é precedida por um período de quarenta dias de preparação, a Quaresma, e a sua celebração prossegue por mais cinquenta dias, durante o chamado  tempo pascal. Se não existisse a Páscoa, não existiria a Quaresma.

A Quaresma deve ser para cada um de nós um convite para sintonizar nossa vida com a de Jesus. É isso que significa a palavra conversão, que é a tradução da palavra grega , “metánoia”, que quer dizer mudar a maneira de pensar e de ver as coisas  para pensar e ver as coisas conforme  Jesus nos revela com suas palavras e sua vida. Converter-se é passar de uma vida distante de Deus, da Igreja e do amor ao próximo para viver conforme o caminho de Jesus.

Aliás, a palavra Páscoa vem do hebraico e do aramaico “Pesah, Pasha” que, segundo São Jerônimo e Santo Agostinho, significa “passagem”. A Páscoa de Israel é a celebração da passagem da escravidão do Egito para a liberdade do deserto e da Terra prometida. A Páscoa de Jesus é a passagem da morte para a nova vida do Ressuscitado.

A nossa Páscoa deve ser a de realizar a Páscoa de Cristo em nossa vida: passar da escravidão à liberdade, das trevas à luz, da morte à vida, do pecado à graça. 

O mês de março também será marcado por um acontecimento de grande importância para  a Igreja: a eleição de um novo Papa, que sucederá ao Papa Bento XVI.  Os Cardeais do mundo inteiro, com idade até 80 anos, se reunirão no Conclave para prestar este serviço à Igreja. Provavelmente, até a Páscoa, poderemos dizer, com alegria:  “Habemus Papam”.  

Peço, pois, as orações de todos os fiéis para que, inspirados pelo Espírito Santo, nós, os Cardeais, reunidos em Conclave, possamos, buscando o bem da Igreja e do mundo,  cumprir esta importante tarefa que ora nos é confiada.  

Ao Papa Bento XVI que encerrou no dia 28/02 seu ministério petrino,  nossas orações, nosso respeito e nossa eterna gratidão pelos 8 anos de profícuo Pontificado.